segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sintaxe à Vontade

Sem horas e sem dores,
Respeitável público pagão,
Bem-vindos ao teatro magico.

A partir de sempre
Toda cura pertence a nós.
Toda resposta e dúvida.
Todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser,
Todo verbo é livre para ser direto ou indireto.
Nenhum predicado será prejudicado,
Nem tampouco a frase, nem a crase, nem a vírgula e ponto final!
Afinal, a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre vírgulas,
E estar entre vírgulas pode ser aposto,
E eu aposto o oposto: que vou cativar a todos
Sendo apenas um sujeito simples.
Um sujeito e sua oração,
Sua pressa, e sua verdade, sua fé,
Que a regência da paz sirva a todos nós.
Cegos ou não,
Que enxerguemos o fato
De termos acessórios para nossa oração.
Separados ou adjuntos, nominais ou não,
Façamos parte do contexto da crônica
E de todas as capas de edição especial.
Sejamos também o anúncio da contra-capa,
Pois ser a capa e ser contra a capa
É a beleza da contradição.
É negar a si mesmo.
E negar a si mesmo é muitas vezes
Encontrar-se com Deus.
Com o teu Deus.

Sem horas e sem dores,
Que nesse momento que cada um se encontra aqui e agora,
Um possa se encontrar no outro,
E o outro no um...
Até por que, tem horas que a gente se pergunta:
Por que é que não se junta
Tudo numa coisa só?



(O Teatro Mágico)

 

domingo, 7 de agosto de 2011

Rosa Negra Imortal

Em nome do desespero
Chamo o teu nome
Uma lamentação que suspiro
Repetidamente

Eclipse espiritual
Os portões se fecharam para a minha procura
À noite...
Um véu de estrelas, olhando
Minha sombra nasce da luz
A luz do olhar, na escuridão

Sobre águas turbulentas as memórias pairam
Infinitamente, procurando por dias e noites
A luz da lua acaricia uma colina solitária
Com a calma de um sussurro

Visto uma alma nua
Um semblante pálido na água fluente
Está frio aqui
A geada marcou meu casaco com o pó

Os olhos que se fixam no teu mudo retrato
Nós falávamos apenas por pensamentos
Juntos nós contemplamos, e esperamos
As horas trouxeram a sede e o sol nascente

Os pássaros abandonam seus descansos
As sombras douram as arcadas

Não vire o rosto em minha direção
Confrontando-me com a minha solidão
Você está numa floresta desconhecida
O pomar secreto
E a tua voz é vasta e acromática
Mas ainda tão preciosa

A canção de ninar da lua crescente te levou
Hipnotizado, seu semblante caleidoscópico
Presentou-te com um olhar vazio
Outra alma dentro do rebanho divino

Eu o guardei,
O símbolo do amaranto
Escondido dentro do templo dourado,
Até que nos regozijemos nos campos
Do fim
Quando nós dois andarmos pelas sombras
Ele queimará e desaparecerá
Rosa Negra Imortal

Está escurecendo novamente
O anoitecer se move por entre os campos
As árvores noturnas lamentam, como se soubessem que
À noite, eu sempre sonho contigo...

(Black Rose Immortal - Opeth)