quinta-feira, 26 de maio de 2011

Carolina IV - Serpentes


Esperança. A única luz que pode guiar um homem quando esse se encontra em meio às situações mais desesperadoras possíveis. É como os raios do sol após longo período de nuvens e tempestades. Sua luz aparentando maior brilho, calor e intensidade do que antes, como a fênix renascida das cinzas, aliviando corações quebrantados. É o relance do sorriso de deus.
E o sol de nossas esperanças nos tocou com suas douradas mãos, essa manhã, enquanto despertava.
Após dias à mercê das aguas, as mesmas pareciam demonstrar-nos compaixão, guiando-nos, enfim, à terra firme, abrandando-nos corpo e alma e nos dando a oportunidade de chorar a perda de nossos companheiros.
E como, há muito se diz, a esperança é a ultima que morre.
…Mas morre…
Como nova tempestade que, com fortes ventos, bloqueia novamente o sol, enegrecendo o dia ainda mais do que antes. A luz se apaga. A fênix é abatida. E permanece o sorriso de deus: só que de escárnio e sarcasmo – não é Satanás, também, um deus?
As douradas mãos, que nos acariciavam e confortavam, foram decepadas.
Rumávamos, vagarosamente, em direção à ilha, carregados pelas águas. Todos alegres e esperançosos. O sol estava a pino quando nos aproximávamos. E então as demoníacas águas nos tiraram de curso.
(detalhe do rascunho do texto, atrás dos desenhos... :B)
Brincalhonas, desviaram-nos paralelamente, a princípio. Inotável. E depois começaram a nos afastar. Era desesperador. Sete de nossos companheiros, desesperados, atiraram-se nas águas, tentando vencer a distância – cerca de um quilometro – e a correnteza. Mas a forte corrente marinha – serpente que é – os arrastou. Morreram todos – devorados pelos mares…
E nós, os que sobreviveram por medo, prudência – ou seria imprudência? –, nos encontramos totalmente desolados. Não há, mais, o que chorar. Não há mais ânimo ou gosto para nada. Apenas vivemos – até quando, não sei…
Escrevo essa possível última mensagem – não tenho mais forças para ou porque continuar escrever – ao fim do dia. Já não podemos ver a ilha há horas. E também não vejo nada à frente – nem mesmo futuro.
O sol morre no horizonte.





Miguel Augusto, tripulante da Carolina IV
12 de maio de 1500






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